Se as cartas de amor já eram
Ridículas
em seu tempo.
Os e-mails de amor que preferiríamos
Patéticos
No fundo são mais
Ridículos
Ridículo
pela imaterialidade,
por não ser compensado nem pelo valor do peso do papel.
Ridículo
pela ansiedade,
de não ter ritual, de não se rasgar, de não se queimar...
pela falta do testemunho de recibo do carteiro...
Ridículo
Simplesmente por desaparecer sem qualquer traço
de que um dia esteve ali para declarar o seu amor
resumido a diminutos bits na lixeira de spams,
estes talvez até com mais espaço.
Pois a tecnologia,
e o futuro que vivemos agora,
e os poemas já escritos
Deveriam ter ensinado ao homem que esse comportamento é sobretudo
Ridículo
Mas no fundo o homem bem sabe,
Ridículo
é ficar se repetindo aos outros,
palavras, atos, tentativas,
erros reconhecidos por semelhança,
encher caixas, quiçá de entrada,
de sentimentos gratuitos,
enviar o que se sente, sempre será
Ridículo.
Ser honesto e coerente com as próprias emoções é
Ridículo
E esperar que agora,
só porque é agora, seja
Patético,
só faz isso ainda mais
Ridículo
Pois esperar co-paixão, por qualquer texto de amor,
é o que é,
Ridículo.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
Estou cansado
Álvaro de Campos
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
sábado, 22 de maio de 2010
Movimento dos boêmios
Compreender tua escolha
é compreender minha falta
e aí vem o medo de não
lutar nada objetivo na vida,
além de mais subsistência
no movimento dos boêmios
pois para estas energias
tão novas temo já não ter ralo
até o fim do teu inverno seco.
Como encontrar esta resposta
aqui dentro? Agora só,
se vê uma cicatriz exposta
que a poeira no pé com a enxada,
de vermelha encardiu
e ferida, coagulou calóide
anestesiada pelo álcool.
E o meu amor então?...
Te digo que tens todo o direito
de não aceitar, incredular...
Mas não sei como deixar de te oferecer,
pois será para sempre o meu melhor.
Pois boêmio não é rico, é fértil.
Fosse rico saberia a hora de plantar,
precisaria a hora de colher o seu amor com lucro,
em qualquer terra que escolhesse investir.
Boêmio embasbacado se espalha ao vento,
e imagina com um porre que a terra descuidada não tem dono...
depois, enterrado, brota-se de uma boa tempestade,
cresce caprichoso, em terra devo-luta e nutritiva
para ser frondoso e fazer sombra de majestade viva.
Queria ficar vendo a vida por dias...
só a crescer o fruto que te instalei
ao me aspergir uti possidetis
nesta luta do movimento dos boêmios solitários.
Afinal, o teu corpo rocei latifúndio
inteiramente feliz à luz venusiana.
Mas foste logo construindo uma muralha
e proibiu a entrada de ideia,
me vi só, um lavrador bem e mal-aventurado...
e foste logo jogando café fervente
no meu exército quixotesco que apareceu
a todo custo bradando: - Dulcineia!
Quero ver crescer o amor que te plantei!!!
Do jeito que consegues,
mas tu concebes minha semente.
Nossa espécie exótica aquiescente,
em ti arma um castelo resistente.
Arma-se até as pontas dos dentes.
Assim nosso tesouro selvagem,
já se gera em teu cativeiro.
Cresce fruto de um desejo mais secreto
que se realiza consequente
e logo mais não caberá em teu domínio.
Não mais estiva a ironia biológica...
No fundo mais quero, e aguardo, e confio
em teus neurônios e hormônios,
professo fé num amor pós-contemporâneo
com a paciência de quem agora espera
pois só assim temos a ganhar
e adubado com cerveja
um futuro dia também gérmen
em outra terra tão boa
quanto a tua, formosa, desbunda.
é compreender minha falta
e aí vem o medo de não
lutar nada objetivo na vida,
além de mais subsistência
no movimento dos boêmios
pois para estas energias
tão novas temo já não ter ralo
até o fim do teu inverno seco.
Como encontrar esta resposta
aqui dentro? Agora só,
se vê uma cicatriz exposta
que a poeira no pé com a enxada,
de vermelha encardiu
e ferida, coagulou calóide
anestesiada pelo álcool.
E o meu amor então?...
Te digo que tens todo o direito
de não aceitar, incredular...
Mas não sei como deixar de te oferecer,
pois será para sempre o meu melhor.
Pois boêmio não é rico, é fértil.
Fosse rico saberia a hora de plantar,
precisaria a hora de colher o seu amor com lucro,
em qualquer terra que escolhesse investir.
Boêmio embasbacado se espalha ao vento,
e imagina com um porre que a terra descuidada não tem dono...
depois, enterrado, brota-se de uma boa tempestade,
cresce caprichoso, em terra devo-luta e nutritiva
para ser frondoso e fazer sombra de majestade viva.
Queria ficar vendo a vida por dias...
só a crescer o fruto que te instalei
ao me aspergir uti possidetis
nesta luta do movimento dos boêmios solitários.
Afinal, o teu corpo rocei latifúndio
inteiramente feliz à luz venusiana.
Mas foste logo construindo uma muralha
e proibiu a entrada de ideia,
me vi só, um lavrador bem e mal-aventurado...
e foste logo jogando café fervente
no meu exército quixotesco que apareceu
a todo custo bradando: - Dulcineia!
Quero ver crescer o amor que te plantei!!!
Do jeito que consegues,
mas tu concebes minha semente.
Nossa espécie exótica aquiescente,
em ti arma um castelo resistente.
Arma-se até as pontas dos dentes.
Assim nosso tesouro selvagem,
já se gera em teu cativeiro.
Cresce fruto de um desejo mais secreto
que se realiza consequente
e logo mais não caberá em teu domínio.
Não mais estiva a ironia biológica...
No fundo mais quero, e aguardo, e confio
em teus neurônios e hormônios,
professo fé num amor pós-contemporâneo
com a paciência de quem agora espera
pois só assim temos a ganhar
e adubado com cerveja
um futuro dia também gérmen
em outra terra tão boa
quanto a tua, formosa, desbunda.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O velho amor
O velho amor civilizado
foi sujeito ao desejo alquebrado
patetice do amor apaixonado
velho amor que se entende sepultado
com esse vazamento
que transborda
especializado em relacionamentos
cômicos que careciam seriedade
e agora não tem a experiência
de se comprometer.
É preciso repensar o amor,
estruturar o desejo,
dar volume à escolha,
o velho amor já não dá conta
de explicar a verdade da vida.
foi sujeito ao desejo alquebrado
patetice do amor apaixonado
velho amor que se entende sepultado
com esse vazamento
que transborda
especializado em relacionamentos
cômicos que careciam seriedade
e agora não tem a experiência
de se comprometer.
É preciso repensar o amor,
estruturar o desejo,
dar volume à escolha,
o velho amor já não dá conta
de explicar a verdade da vida.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Don’t [let] me be misunderstood.
Leandro id Lascado
[…]
Viver de dedução, é assim que eu vivo [não é, menina?), à espreita dos fatos, à beira dos atos, como se tudo estivesse suspenso só pra assistir à dança fora de moda que eu te propus, um segundo em que tudo parasse de rodar pra acompanhar o movimento mínimo da vontade, uma pausa para o encanto que não coube na tua agenda.
E eu, presa dos meus vícios, vítima do discurso, me embrulhando num papel todo novo pra te dar, eu te vi ter pressa, essa pressa sem direção que chamamos de curiosidade, essa necessidade infantil e tão natural de saber o que o mundo tem a oferecer. Eu vi o teu futuro na minha frente e vi meus braços serem pouca rédea pros teus músculos sadios e sem questão.
Eu vi como há muito tempo não via a poesia sorrir pra mim. Sorri de volta, corri com meu cavalinho pra chuva e achei que assumir o risco era menos ridículo do que de fato é. Eu vi métrica no teu texto, vi semiótica nos teus códigos, vi um encontro onde você viu exercício de estilo.
É de perder em ilusões que se vive, menina, de olhar para as evidências sem entrelinhas, nem óculos escuros. Eu vou aprendendo com o tempo tudo o que você já sabe de cor.
[…]
Viver de dedução, é assim que eu vivo [não é, menina?), à espreita dos fatos, à beira dos atos, como se tudo estivesse suspenso só pra assistir à dança fora de moda que eu te propus, um segundo em que tudo parasse de rodar pra acompanhar o movimento mínimo da vontade, uma pausa para o encanto que não coube na tua agenda.
E eu, presa dos meus vícios, vítima do discurso, me embrulhando num papel todo novo pra te dar, eu te vi ter pressa, essa pressa sem direção que chamamos de curiosidade, essa necessidade infantil e tão natural de saber o que o mundo tem a oferecer. Eu vi o teu futuro na minha frente e vi meus braços serem pouca rédea pros teus músculos sadios e sem questão.
Eu vi como há muito tempo não via a poesia sorrir pra mim. Sorri de volta, corri com meu cavalinho pra chuva e achei que assumir o risco era menos ridículo do que de fato é. Eu vi métrica no teu texto, vi semiótica nos teus códigos, vi um encontro onde você viu exercício de estilo.
É de perder em ilusões que se vive, menina, de olhar para as evidências sem entrelinhas, nem óculos escuros. Eu vou aprendendo com o tempo tudo o que você já sabe de cor.
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