domingo, 29 de agosto de 2010

Como pode?

Como pode tua beleza
Ser assim tão belicosa?
Desperdiçar-me com incerteza,
fosse eu coisa perigosa.
Já não vejo você bela,
Cataratas em meus olhos.
Não tem cores minha tela
Se tua vaga não navego,
Teu litoral é só abrolhos.
Diabos! Sê feia uma vez,
Pelo menos de viés!
Para que guarde, te esqueça.
Seja toda desespero
e não esta rejeição
de quem me espera filho.
Querer de mim mais nada,
coice tal da bala à arma
É muito pouco pelo
Sonho lindo que carregas
Pelo que só é possível
se te canto; enquanto negas
que me espero em ti
o novo amor que vais parir.
Como pode tua frieza
Ser assim tão desastrosa?
Flor narcisa em dor suprema,
Dispensar-me em sobremesa,
fossem doces os venenos.
Sem alegria, o que seremos?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Morais e Pessoa

Começo outro poema
Ou termino o mesmo,

Morais e Pessoa?
Sou pessoa, ou moral?

Simplesmente escrevo
Dou vazão à tinta
Consumo a ilusão,
Dou razão à mágica
Ciência à comédia,
Prática trágica...

Morais e Pessoa?
Sou pessoa, ou moral.

Me meti no drama certo
E é essa pobre poesia
Que nem mais me entrego
Enquanto estiver perto
Afinal, o que há de belo
Em ser assim humano
singelo tão sem zelo?

Morais e Pessoa?
Sou pessoa e moral.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Soneto Interior

E consertaram-me a ponte
Mas não se vê o outro lado.
Só tem névoas no horizonte
Más águas rolando debaixo.

Vai longe, vai mágoa,
Distante a levar o riacho
Lavar, em pedra, a alma,
A limpar duro o que acho.

Daqui onde sublimo, renasço.
Em anos a fio, vira um laço?
Num berro atravesso o amor.

Fia toda esta água escura,
Pedra fica até que fura.
Teci-me em seixo interior.

Além da vossa fisiologia

Vós ainda não entendestes
Que o homem sou eu
Vós só precisais ser mulher
do jeito que quiseres,
Além da vossa fisiologia.
Se vós sois dura, sejais.
Pois sejais, mulher, se vós sois fria...
e bem sei que não sois assim,
sois só assim frente a mim,
não sois vós a mulher que via.

A mulher que fiz um filho
Despiu-se em alma bela
de duas, três vezes harpia
por quem cerrei os cílios,
de primeira besteira...
saltei seguro de alegria.

Há tanto o que fazer,
e tão pouco de vós.
E eu que vos queria?
Vos tenho carinho
e temo e tremo frente
um possível vosso amor
agora perdi meu ser
além da vossa fisiologia

tanto mais monstro,
menos me vedes,
quanto mais falo,
menos me ouvis
cheguei no meu nada,
emaranhado de redes,
nem desmaiam-me as pálpebras,
nem há mais querer, nem sono,
além da vossa fisiologia.

Pelo jeito vosso show
ainda nem bem começou
Já fatigais a teoria,
Cansastes os sonhos
mas o saber é inesgotável,
mistura matéria com ideia,
a caro preço afetivo
mas molda novos mundos
dentro do possível,
mordomia quase sábia.
só existe perfeição na realidade
o resto é sonho clássico...
amor não mede em taxas
amor não cabe em chart,
além da vossa fisiologia,
amor é além da arte,
amor é além da morte.