segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cantiga como for

Cantiga de amigo,
Cantiga de amor,
Cantiga de filho,
A tanto tempo derivo,
Confuso escárnio trovador
nem periga o redondilho,
nem maior, nem amador.

O futuro e o passado
Só existem no presente
E já não iludo de utopias
Pois a alma também cansa de sonhar.
Qual era a diferença
naquele nosso caso?

Cantiga de amigo,
Cantiga de escárnio,
Cantiga de pai,
Cantiga de amor,
Cantiga como for.

O mar, a luz cósmica, o ar

Ideal são coisas que têm luz própria, por definição poética,
A lua já deixou de ser luz cósmica, neste sentido, tangível.
Para o inconsciente do homem, embora ainda não para o indivíduo.
Ainda sobram as estrelas agora que o inconsciente
Foi parar no cosmos, desmergulhou do mar.
Só chega em algum lugar
Se num momento virar luz, virar nave,
E nave-luz virar imagem constante e própria.
Assim, só chega em algum lugar com o auxílio de inteligências e memórias humanas.

Mas o ideal são coisas que não se tem alcance,
Ou não se quer tão cedo.
Ou o ideal, por definição, é a morte,
E ter quem lhe guarde a imagem
Em outros fios de proteína
Que não podem ser mais do que realidade
Do que se compreendia ideal
E embora encanto, enquanto vai vaidade.

Quando vir à luz, chegado das estrelas
Realidade crua, nua, viva
Do ideal que se esquiva
Da luz ideal que nos reflete, refrata
Com as distorções mais ingratas do real abissal
E toda a pressão da água evapora sem gravidade
Responsável por tantos calos e estruturas
Que não fazem sentido no espaço
E certamente irão atrofiar, caducar, despencar, esperamos.

À pressão da luz, tão mais leve já sem corpo,
Ideal é só mesmo a sua velocidade...
Vai iluminando nossa carne e neste platonismo,
O amor é sombra e reflexo do outro em mim.

É um querer dessas tais profundidades
Lhe transformar em luz a ser doada
E no fundo do meu mar você brilhava que ceguei
Sem querer mesmo proteger os olhos.
Você parecia a estrela do idealismo,
Mas o ideal são coisas que não se tem alcance,
Moram nas estrelas mortas e vivas lá do espaço
E se já dá trabalho desmergulhar,
Como será para virar luz cósmica lá na então eternidade?

domingo, 13 de junho de 2010

Pós-contemporâneo

É preciso pensar no futuro
pois o presente não adianta.
Baby,
não dá mais tempo.
É melhor pensar para depois
porque agora já não é do jeito que se queria que fosse.

"Agora" ainda traz todos os sonhos
de outras gerações
que ninguém entende direito
como foi que chegaram até aqui
sendo assim só tradições.

Só depois pode ser melhor,
se organizar agora...
Porque se pensar em agora
só vai dar raiva do meu sorriso
bobo e esperançoso
e das coisas lindas que
agora acontecem misturadas
com a coisa mais custosa
de toda a minha humanidade:
aceitar o amor como ele é
e não queria que assim fosse.

Gostaria de só viver depois...
mas é preciso pós-agora já...
tipo uma inflação galopante,
pensar o depois, o avante,
sem desalinhar da velha teoria do amor,
traga qualquer coisa à alma,
já tão vazia de certezas.

É uma função toda torta,
daquelas que só se faz sozinho,
com muita matemática
de números irracionais,
derivadas e integrais,
conjuntos surreais...

Mas lá vai:
se o meu amor
está fora de mim (em você)
uma hora este amor
que você clama em si,
também estará fora de você...

E será nosso amor,
exteriorizado, pós-contemporâneo
em nossa revolução de outubro.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

La belle dame sans mercy

Je vous salue, Monique. Qui êtes-vous? Explique
São só dúvidas. Qu'est-ce que c'est l'amour, madame?
Haja fascínio e crueldade em tua liberdade, querida.
Como pode acontecer ter tais sentimentos teu rosto?
As boas respostas não bastam para a vida
e o tempo não passa, só pássaros que marcham às armas.
O teu único problema é não gostar de mim, revolucionariamente.
Já é tão difícil te amar que nem sei mais o que é o amor,
pois te amo enquanto símbolo análogo do que destróis em mim...
Pois tenho a maior prova de que o amor está ali, em ti?
Je vous salue, Monique. Qui êtes-vous? Explique
Ma belle dame sans mercy. Explique; apaguei, esqueci...
Qual o significado disso tudo, chérie?
Caminhar sobre estrangeiros empunhando estandartes bizarros
de braços abertos, seios descobertos, a exigir sacrifícios
Lá vem os franceses e vossos processos civilizatórios...
Eu tenho impressionantes poderes observatórios sem ter onde ir
E é assim que eu sei, feliz por ao menos saber
que o dia da Glória est arrivé, vou voar em tua direção
Serei também o meu herói, serei Eros e Pteros
Pois também sei que só se é livre por inteiro
se radicalmente comprometido com a própria paixão.